Quando lidamos com Crianças pequenas, seja por serem nossos filhos, familiares ou alunos, com o passar dos meses vamos percebendo que eles crescem a uma velocidade alucinante que nos trás tanto um sentimento de orgulho, como um sentimento de nostalgia e de desejo de que o tempo vá mais devagar.
No meio de todo este crescimento chega a um momento em que nos apercebemos que o desenvolvimento das Crianças vai muito além da aquisição da motricidade fina e grossa, do trepar coisas, do andar de bicicleta, de dizer “mamã” ou “papá”. Há uma fase em que percebemos que lhes falta algo de máxima importância e que chega a deixa-las frustradas.
Estamos aqui a falar da gestão e verbalização de emoções.
Este é um ponto muito importante e que infelizmente não é muito falado. Quando as Crianças começam a sentir esta necessidade de se exprimirem mas não conseguem pois ainda não desenvolveram essa capacidade, começam a surgir muitas vezes momentos de algum stress como as chamadas “birras”.
Cabe, portanto, ao adulto, ter esta noção e ajudar a Criança a passar esta fase da melhor forma possível dando-lhes todas as ferramentas de que precisa. Não temos que ter medo ou achar prematuro falar de emoções com elas. Defendemos que é de facto importante introduzir este tema a partir dos 18 meses/24 meses, dependendo sempre das necessidades de cada Criança.
O que é qua emoção?
Temos de começar pelo princípio e responder à questão: “o que é uma emoção?”
A emoção nada mais é do que a manifestação física, natural e espontânea ligada à percepção de um determinado evento no nosso ambiente ou na nossa mente. Segundo a Psicologia existem as chamadas emoções fundamentais, que são aquelas emoções base que todos sentimos.
Segundo o psicólogo americano Paul Ekman existem as seguintes emoções fundamentais:
- Tristeza;
- Alegria;
- Raiva;
- Medo;
- Repugnância.
Segundo a psicóloga Isabelle Filliozat existem:
- Medo;
- Raiva;
- Tristeza;
- Prazer;
- Felicidade;
- Amor.
Como podemos ver, segundo a Psicologia as emoções base podem variar, mas elas estão lá e isso não podemos ignorar. A forma de expressar as emoções pode variar muito culturalmente. Até mesmo dependendo do género, por exemplo, as raparigas são incentivadas a expressar a tristeza e os rapazes são mais incentivados a expressar a raiva. Quantas vezes ouvimos a expressão “Um homem não chora?”
Aprender a identificar as emoções
As nossas Crianças estão em crescimento e em plena fase de aquisição de conhecimentos em relação a tudo. Elas não escolhem ter determinada emoção ou ter determinada reacção a um evento pelo qual estão a passar. As Crianças estão realmente a sentir aquilo, são espontâneas. O nosso papel como cuidadores é ajuda-los a ter percepção dessas emoções e saber como geri-las.
Como já referimos, a partir dos 18 meses as Crianças começam a viver emoções que lhes são difíceis de gerir. Quando temos esta percepção está então na hora de lhes oferecer todo o vocabulário correcto para que se consigam expressar da melhor forma.
Este trabalho começa pelo adulto, temos o papel essencial de dars nomes ao que estamos a sentir.
“ Estou muito feliz por teres vindo hoje.”
“ Estou triste porque mordeste o Luís.”
“ Estou orgulhosa porque vestiste o casaco sozinho.”
Temos que ser os primeiros a saber expressar por palavras o que estamos a sentir. Devemos ser sempre o mais descritivos possível e não ter medo que seja demasiado complexo para as nossas Crianças.
Como podemos praticar uma escuta activa e empática com as nossas Crianças se não nos conhecemos a nós mesmos?
Em Montessori, muito além de falarmos em materiais específicos ou quartos montessorianos, falamos de um dos três pilares base da pedagogia, o Adulto Preparado. No campo das emoções não poderia ser diferente, o adulto tem que primeiramente estar preparado para poder transmitir este tipo de ensinamentos à Criança.
Como escrevemos no artigo A fase do morder e do bater, uma fase pela qual as Crianças passam e que nem sempre é fácil de lidar. Essas fases nada mais são do que um pedido de ajuda das Crianças para situações que estão a viver e que não sabem como expressar ou ultrapassar. Muitas das vezes trata-se apenas e só da imaturidade emocional das Crianças nessa fase. Não sabem o que estão a sentir ou como exprimir o que estão a sentir e essas acções são as formas que encontram para o fazer.
Emoções e Sensações
As emoções estão directamente relacionadas com as sensações. Não podemos falar de emoções sem antes falar das sensações. As sensações são-nos fornecidas pelos cinco sentidos, pelo que sentimos dentro de nós. As emoções são sempre acompanhadas de sensações, por exemplo:
– A raiva é acompanhada pelo coração acelerado, punhos cerrados, sensação de calor;
– A felicidade é acompanhada pela paz interior, pela tranquilidade, pelo sorriso.
As emoções acompanham-nos ao longo de toda a nossa vida, sendo essencial ajudar as Crianças a compreende-las e sobretudo a aceita-las. Se as queremos preparar para a vida temos que lhes proporcionar este tipo de conhecimento, de autoconhecimento.
As fases das emoções e a repressão das emoções
As emoções ocorrem em 3 fases:
- Fase de carregamento
- Fase de tensão
- Fase de descarga
Quando não expressamos uma emoção o nosso corpo não passa pela fase de descarga e fica em tensão. Por exemplo no caso do medo. Esta é uma manifestação que nos permite escapar, proteger ou evitar algo, é uma resposta ao perigo. A ansiedade é um medo natural, mas que ocorre quando nos deparamos com situações novas e desconhecidas, é uma emoção, um sentimento que nos permite preparar para enfrentar algumas situações. É saudável passarmos por este processo.
Contudo, quando por outro lado, reprimimos uma emoção estamos a provocar as chamadas reacções emocionais parasitárias. Estas reacções não permitem que passemos pela fase 3 de descarga da emoção e com isso reforçar a sua expressão. Ou seja, isto leva a comportamentos desproporcionais, irracionais ou inadequados para a situação que estamos a viver. Acontece muitas vezes porque a emoção que deveríamos apresentar é ou foi reprimida e/ou proibida em tempos. Por exemplo, uma Criança que é proibida de chorar (caso da expressão “um homem não chora” ou “isso não é motivo para chorar!“) pode levar a Criança a ficar com raiva por assim ser mais ouvida e respeitada e com isso levar a um comportamento inadequado para o momento.
A nossa missão como adultos é estarmos preparados para transmitirmos estes conhecimentos do Eu às nossas Crianças. Temos que nos saber ouvir e expressar para que possamos mostrar às nossas Crianças como reagir a agir a determinadas situações ou emoções.
Ideias Práticas
Colocando tudo isto na prática, deixamos aqui algumas ideias de como começar a introduzir o tema das emoções às nossas Crianças. Devemos começar a fazê-lo assim que sentirmos que elas estão preparadas e nos mostram a tal necessidade de se expressar sem que consigam, quer por não terem as ferramentas, quer por ainda estarem em fase de aquisição de linguagem.
Cartões das emoções:
Uma ideia bastante interessante é prepararmos cartões que mostrem as diferentes emoções às Crianças para que possam assim perceber melhor como expressar cada uma delas ou até mesmo ir buscar o cartão que representa o que estão a sentir no momento.
Aconselhamos os cartões do blog Elternvommars
ou
Do site: bougribouillons.fr
Livros:
Podemos sempre recorrer a livros sobre o tema, deixamos aqui alguns:
- Diário das Emoções, Anna Llenas
- O Grande Livro das Emoções, Didáctica Editora
- Eu controlo as emoções!, Paulo Moreira
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